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Bolsonaro: criptografia do WhatsApp é um fiasco?

A divulgação de diálogos privados entre Jair Bolsonaro e o filho Eduardo Bolsonaro pela Polícia Federal levantou uma questão delicada: afinal, se o WhatsApp garante criptografia de ponta a ponta, como foi possível recuperar as conversas?

O episódio expõe as limitações práticas dessa camada de proteção quando o dispositivo físico é apreendido.

No relatório oficial, identificado como Relatório Final N.º 3305694/2025, a Policia Federal afirma que as mensagens foram recuperadas directamente do telemóvel do ex-presidente.

Muitos conteúdos tinham sido apagados, mas foram restaurados através de softwares de extração de dados. Os peritos conseguiram reconstruir diálogos e cruzá-los com outros elementos da investigação.

Alguns ficheiros multimídia, como áudios, permaneceram inacessíveis, um reflexo dos limites da técnica.

Ou seja, não houve cedência de dados pela Meta, dona do WhatsApp, nem quebra direta da criptografia de ponta a ponta. A análise incidiu no dispositivo apreendido.

A Policia não revelou que softwares utilizou, mas no mercado internacional são conhecidas soluções como o Cellebrite Premium, ferramenta de origem israelita usada em investigações forenses.

Este tipo de software é capaz de aceder ao sistema de ficheiros do telemóvel, desbloquear dispositivos protegidos e reconstruir dados apagados.

Apesar de a criptografia proteger comunicações em trânsito, entre remetente e destinatário, as mensagens ficam armazenadas localmente em bases de dados do próprio WhatsApp no telemóvel. É nesse ponto que softwares forenses exploram vulnerabilidades ou recorrem a técnicas de recuperação.

Casos semelhantes já ocorreram no Brasil, como no processo do homicídio de Henry Borel. Ainda assim, os detalhes técnicos permanecem sigilosos: as vulnerabilidades exploradas pelas ferramentas de perícia são mantidas em segredo comercial.

Este episódio evidencia uma realidade incómoda: a criptografia de ponta a ponta protege a transmissão de mensagens, mas não garante inviolabilidade absoluta quando o dispositivo é comprometido. Na prática, o elo mais frágil continua a ser o telemóvel do utilizador.

A dúvida que fica é se a percepção pública de “segurança absoluta” no WhatsApp não será, afinal, uma promessa maior do que a tecnologia realmente consegue oferecer.

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