Finanças digitais em África: Inovação, Escalabilidade e Desafios

A África Subsariana continua a ser o epicentro do dinheiro móvel, com mais de 1,1 mil milhões de contas registadas. A banca móvel, as soluções FinTech e as carteiras digitais estão a capacitar as pessoas, proporcionar o acesso a serviços bancários, pagamentos e crédito sem a necessidade de agências físicas.

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A população jovem e experiente em tecnologia de África está a liderar a reformulação do futuro do continente. Sendo a população com o crescimento demográfico mais rápido do mundo, os jovens africanos não só influenciam a sociedade de amanhã, como também estão no centro da inovação nos serviços financeiros, particularmente através da adoção da tecnologia móvel.

A colaboração do sector é cada vez mais vital para garantir que os benefícios dos serviços financeiros móveis sejam amplamente acessíveis, com diversas partes interessadas a trabalharem em conjunto para abrir novas portas para a inclusão financeira. Embora a inclusão financeira tenha sido limitada por sistemas bancários antigos, está agora a ganhar força graças à utilização generalizada de dispositivos móveis.

A escala e a urgência da inclusão financeira

A urgência do avanço da inclusão financeira em África não pode ser exagerada. De acordo com o Global Findex de 2021 do Banco Mundial, cerca de 30% dos adultos nas economias em desenvolvimento continuam sem conta bancária, não tendo acesso nem mesmo aos serviços financeiros mais básicos. Esta exclusão afecta de forma desproporcionada as mulheres, as populações rurais e os proprietários de pequenas empresas, limitando a sua capacidade de poupar, investir e resistir a choques financeiros.

À medida que a população de África continua a crescer e a urbanizar-se, colmatar esta lacuna não é apenas um imperativo social, mas também uma oportunidade de negócio significativa para instituições financeiras, FinTechs e outras partes interessadas que procuram um crescimento sustentável.

A revolução do dinheiro móvel

Os telemóveis tornaram-se mais do que simples ferramentas de comunicação; tornaram-se facilitadores financeiros. De acordo com o relatório “The State of the Industry Report on Mobile Money 2025” da GSMA, quase 1,7 mil milhões de dólares passaram pelas contas de dinheiro móvel a nível mundial no ano passado, o que equivale a 3,2 milhões de dólares em transacções por minuto.

A África Subsariana continua a ser o epicentro do dinheiro móvel, com mais de 1,1 mil milhões de contas registadas. A banca móvel, as soluções FinTech e as carteiras digitais estão a capacitar as pessoas, proporcionar o acesso a serviços bancários, pagamentos e crédito sem a necessidade de agências físicas.

As plataformas de dinheiro móvel, como a Unitel Money em Angola, a M-Pesa no Quénia, a MTN Mobile Money na África Ocidental e Austral e a Orange Money nos países francófonos, levaram os serviços financeiros formais a milhões de pessoas que anteriormente estavam excluídas.

A rápida adoção de smartphones em África está a fomentar a inovação nos serviços financeiros. A população jovem e empreendedora do continente está a utilizar plataformas móveis para transacções comerciais, investimentos e empréstimos peer-to-peer. A comodidade dos serviços bancários móveis permite aos consumidores enviar e receber dinheiro, pagar facturas e obter microempréstimos, tudo a partir dos seus dispositivos. As empresas também estão a tirar partido desta tendência, digitalizando as cadeias de abastecimento, os salários e os sistemas de pagamento.

Desigualdade digital atinge mais as mulheres africanas

Variações entre mercados e modelos de negócio

É importante reconhecer que África não é um monólito. As variações regionais abundam tanto no ritmo de adoção como nos tipos de modelos que florescem. A África Oriental, liderada pelo Quénia e pela Tanzânia, é frequentemente citada como líder mundial na adoção do dinheiro móvel, enquanto a África Ocidental tem registado um forte crescimento através de parcerias entre empresas de telecomunicações e bancos.

Na África Austral, a abertura regulamentar permitiu uma gama mais vasta de produtos bancários digitais.

Barreiras persistentes: Infra-estruturas e literacia

Apesar destes progressos impressionantes, existem obstáculos fundamentais que continuam a limitar a adoção generalizada em África. A cobertura da rede continua a ser desigual, sobretudo nas zonas rurais e remotas, onde a conetividade móvel pode não ser fiável ou estar totalmente ausente. O acesso à electricidade é outro desafio crítico; de acordo com a Agência Internacional de Energia, quase 600 milhões de pessoas na África Subsariana ainda não dispõem de energia fiável, o que dificulta o carregamento de dispositivos e a manutenção de uma conetividade consistente.

Além disso, as lacunas na literacia digital significam que muitos potenciais utilizadores não têm as competências necessárias para navegar nas plataformas digitais dos serviços financeiros com confiança e segurança. Para as empresas e os fornecedores de serviços, a resolução destes desafios fundamentais de infra-estruturas e educação é essencial para desbloquear todo o potencial da inclusão financeira através de dispositivos móveis.

Dados alternativos e o défice de crédito

Outro obstáculo persistente é a falta de historial de crédito formal, que continua a impedir muitas pessoas de obterem empréstimos ou assistência financeira. A adoção de modelos inovadores de pontuação de crédito, como a utilização de fontes de dados alternativas de históricos de pagamentos móveis e registos de facturas de serviços públicos, oferece uma solução promissora para avaliar a capacidade de crédito de forma mais inclusiva.

Ao tirar partido da análise de dados, da inteligência artificial e da aprendizagem automática, tanto os bancos tradicionais como as FinTechs estão a encontrar novas formas de avaliar a solvabilidade e de alargar os serviços a populações anteriormente mal servidas.

Ambiente regulamentar e segurança

O panorama regulamentar em África está a evoluir, com alguns países a adoptarem as finanças digitais com mais entusiasmo do que outros. A falta de harmonização transfronteiriça pode complicar os esforços para aumentar os serviços ou introduzir soluções transfronteiriças, especialmente para as Pequenas, Micro e Médias Empresas (PME).

Igualmente importante é a necessidade permanente de criar e garantir a confiança nos serviços financeiros digitais. Medidas sólidas de deteção de fraude e verificação de identidade são essenciais para salvaguardar as transacções e promover a confiança dos consumidores. A pesquisa da TransUnion revela que, no primeiro semestre de 2024, 4,9% de todas as tentativas de transacções digitais com origem na África do Sul eram suspeitas de serem fraudulentas, com o destaque nos riscos no ecossistema financeiro em evolução.

Oportunidades e recomendações

Olhando para o futuro, o sector financeiro africano deve continuar a abraçar a inovação tecnológica, ao mesmo tempo que aborda os desafios em torno da literacia digital, acessibilidade e harmonização regulamentar. A colaboração de vários intervenientes e o investimento na educação do consumidor serão vitais para desbloquear todo o potencial dos serviços financeiros móveis. As tendências emergentes, como a banca aberta, as moedas digitais e as finanças integradas, apresentam novos desafios e oportunidades para as empresas preparadas para inovar.

Ao trabalharem em conjunto, os participantes do sector podem criar um ambiente em que as finanças digitais proporcionem oportunidades económicas significativas e duradouras em todo o continente. O futuro das finanças móveis em África é inegavelmente brilhante. Com inovação contínua, parceria e foco na inclusão, os jovens do continente não só beneficiarão como também liderarão uma transformação que promete crescimento económico sustentável e prosperidade.

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