A indústria móvel continua a ser uma pedra angular do crescimento de África, representa quase 8% do PIB da África Subsaariana, cerca de 140 mil milhões de dólares em 2023 e sustenta 4 milhões de empregos. Até 2030, essa contribuição poderá aumentar para 280 mil milhões de dólares, desde que sejam implementadas políticas favoráveis.
Foi neste contexto que o Mobile World Congress Africa 2025 (MWC), organizado pelo Global System for Mobile Communications (GSMA) teve lugar de 21 a 23 de outubro em Kigali capital do Ruanda e reuniu os principais intervenientes que moldam o futuro digital de África.
No centro desta transformação está o poder da tecnologia móvel, afirmou Vivek Badrinath, CEO da GSMA
Ruanda, um exemplo de África conectada, agora possui 99% de cobertura móvel e 13 milhões de ligações activas. De acordo com Paula Ingabire, Ministra das TIC, o país passou de 500 mil para 5 milhões de utilizadores 4G em apenas dois anos e formou 4,5 milhões de cidadãos em competências digitais. «Devemos criar soluções concebidas em África, construídas para África e prontas para o mundo», enfatizou.
No entanto, os desafios permanecem. Como apontou Mourad Mnif, director de consultoria da PwC Tunísia: “A cobertura 4G atinge 65% da África Subsaariana, mas apenas 23% da população realmente a utiliza”. O custo dos smartphones, o baixo nível de alfabetização digital e as regulamentações instáveis continuam a impedir o pleno potencial do sector. “A saturação do mercado, o aumento dos custos de energia e a queda na rentabilidade limitam os investimentos e, consequentemente, a qualidade dos serviços”.
Várias alavancas são identificadas: tornar os smartphones mais acessíveis, reduzir os impostos do sector, incentivar a partilha de infraestruturas e desenvolver competências locais, todas medidas essenciais para garantir que a revolução móvel beneficie a todos.
Para além das telecomunicações, o surgimento da inteligência artificial está a abrir um novo capítulo. À margem do MWC Kigali, a GSMA, em conjunto com operadoras como Airtel, MTN, Orange, Vodacom, Ethio Telecom, Axian Telecom e parceiros como Cassava Technologies, Masakhane African Languages Hub e Lelapa AI, anunciou uma iniciativa pan-africana para desenvolver modelos de linguagem de IA inclusivos e soberanos.
Apoiada por um estudo de viabilidade da GSMA, a iniciativa centra-se em quatro pilares: dados, capacidade computacional, talento e políticas. Serão criados grupos de trabalho para cocriar ferramentas e partilhar resultados em próximos eventos da GSMA.
De acordo com vários participantes do MWC Kigali, uma convicção sobressai com clareza: os dispositivos móveis e a inteligência artificial são hoje os dois grandes motores do futuro de África.
Mas para que essa dupla revolução seja verdadeiramente transformadora, a África deve investir ousadamente no seu povo, nos seus dados e nas suas línguas. O desafio não é mais apenas conectar o continente, mas permitir que ele crie, programe e inove por conta própria.
A ascensão digital de África já não é uma promessa: é uma força em formação, determinada a moldar a sua própria revolução tecnológica.








