Angola tem registado progressos relevantes nos sectores de Tecnologia, Media, Telecomunicações (TMT) e Serviços Digitais, mas esses avanços ainda não acompanham as exigências do futuro. A avaliação é de Gabriel Calado, Senior Manager da EY Angola, que participou no VIII Fórum Telecom, realizado recentemente sob o tema “O Triângulo da Digitalização – Serviços Digitais, IA e as Telecomunicações”.
Na apresentação “Inteligência Artificial e novos Serviços Digitais: Do hype ao impacto real”, o especialista defendeu que a Inteligência Artificial já não é uma opção, mas uma corrida por vantagem competitiva. Citou ainda que 83% dos executivos globais consideram a IA uma prioridade estratégica.
Para Gabriel Calado, os serviços digitais têm hoje um papel determinante no desenvolvimento económico e social do País, tanto pela dinamização da economia como pela promoção da inclusão, acessibilidade, inovação, competitividade, integração tecnológica e resiliência.
Em matéria de conectividade, destacou que em 2024 Angola ultrapassou os 14 milhões de utilizadores de internet e chegou perto de 30 milhões de ligações móveis. Referiu igualmente a modernização da rede da Unitel, os cabos submarinos em operação e o uso crescente de soluções cloud por operadores como a Africell. Ainda assim, fez questão de sublinhar que estes avanços não chegam para responder às necessidades futuras.
Ao abordar os obstáculos ao crescimento da Inteligência Artificial em Angola, identificou quatro grandes desafios: a qualidade e estruturação dos dados, a falta de talento especializado, as limitações de infra-estrutura tecnológica e as barreiras culturais e estratégicas.
Sobre a questão dos dados, explicou que muitas organizações ainda trabalham com informação desactualizada ou mal estruturada, o que compromete o desenvolvimento de modelos fiáveis de IA. Como solução, defende a implementação de uma governança leve, com definição clara de responsáveis, catálogos simples, rotinas de limpeza e auditorias periódicas.
A escassez de competências em IA é outro entrave relevante. Para mitigar esse défice, o gestor sugere programas de capacitação rápida, parcerias locais e recurso a modelos pré-treinados, enquanto se forma talento nacional. Neste contexto, apresentou o EY.ai Framework, uma abordagem centrada no ser humano que promove a adopção responsável da tecnologia, com supervisão ética e desenvolvimento contínuo de competências.
Em relação à infra-estrutura, alertou para a instabilidade da conectividade, as limitações de energia e o hardware desactualizado, que dificultam a integração e o processamento de soluções de IA em larga escala. A utilização de pilotos baseados em cloud regional ou híbrida surge como alternativa para avançar de forma gradual.
As barreiras culturais e estratégicas também travam a evolução. Sem liderança clara, visão integrada e políticas de ética e compliance, muitos projectos acabam por não sair da fase piloto ou enfrentam resistência interna. Para ultrapassar esse bloqueio, apontou a importância de pilotos de baixo risco e alto impacto, acompanhados de comités sénior dedicados à ética e conformidade.
Ao analisar o cenário actual, Gabriel Calado afirmou que a IA em Angola está hoje sobretudo orientada para ganhos de eficiência, com exemplos no Mobile Money, nas plataformas OTT e em iniciativas iniciais de e-governo. Segundo o gestor, as oportunidades futuras dependem da capacidade de investimento, da formação de quadros, da estabilidade energética e do fortalecimento das infra-estruturas digitais.