A Cloudflare alterou a sua abordagem no Reino Unido, passando a bloquear o acesso a diversos sites associados à pirataria. A medida incide sobretudo sobre plataformas que oferecem IPTV ilegal e outros serviços que violam os direitos de autor. Esta mudança representa um ponto de viragem significativo, dado que a empresa de CDN sempre evitou assumir esse tipo de responsabilidade.
Durante anos, a Cloudflare manteve uma posição clara: o seu papel era facilitar a transmissão e garantir a segurança dos dados na Internet, não censurar conteúdos nem limitar o acesso a sites. Por essa razão, recusava-se a bloquear plataformas piratas, alegando que tais medidas implicavam riscos sérios. Entre os argumentos, destacavam-se preocupações com a neutralidade da rede e a complexidade técnica de aplicar bloqueios eficazes sem prejudicar serviços legítimos.
Desta vez, o cenário mudou. Uma ordem judicial no Reino Unido, presumivelmente emitida pela Motion Picture Association (MPA), obrigou a Cloudflare a implementar bloqueios dirigidos a cerca de 200 domínios. Entre os visados estão alguns dos sites mais conhecidos no universo da pirataria.
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Importa salientar que os bloqueios estão a ser aplicados directamente sobre a infraestrutura da Cloudflare, afectando a sua rede de distribuição de conteúdos (CDN) e os serviços de segurança associados.
Isto significa que o site não é carregado nem redirecionado, surge apenas a mensagem de erro 451, reservada para casos em que uma autoridade legal determina o bloqueio do acesso a um domínio. Esta mensagem inclui uma ligação para a base de dados da Lumen, onde, teoricamente, seria possível consultar os detalhes da ordem judicial. Contudo, na prática, nem o nome do juiz responsável, nem a entidade requerente são revelados. Apenas consta uma lista de domínios e algumas referências vagas.
A maioria destes bloqueios assenta em processos desconhecidos do público, apesar de afectarem milhões de utilizadores. O mais surpreendente é que essa falta de transparência não impediu a Cloudflare de agir. Ao contrário de ocasiões anteriores em que se recusava a cooperar com pedidos semelhantes, desta vez a empresa aceitou implementar os bloqueios.
Não há confirmação oficial de que a Motion Picture Association (MPA) esteja por trás desta ação, mas a associação já liderou campanhas semelhantes no passado contra domínios como 123movies, Fmovies e Soap2Day.
Esta decisão pode abrir um precedente perigoso: se outros países seguirem o exemplo, empresas que até aqui mantinham uma postura de neutralidade poderão ser pressionadas a colaborar com a censura legal, sob o argumento da protecção dos direitos de autor.
O mais preocupante é que os bloqueios não se limitam a sites de pirataria de filmes e televisão, também estão a ser restringidas páginas assinaladas por conter malware. Ou seja, não está a ser feita uma distinção clara entre questões de segurança digital e infrações de direitos de autor, colocando tudo sob o mesmo guarda-chuva regulatório.